Tratamento Ortodôntico da Mordida Profunda: Uma Análise da Evolução nas Últimas Décadas
- drmarlosloiola
- 28 de nov.
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Resumo: A mordida profunda, ou sobremordida exagerada, representa uma das más oclusões verticais mais prevalentes na prática clínica ortodôntica, caracterizada por uma excessiva sobreposição dos incisivos superiores sobre os inferiores. Sua etiologia multifatorial, envolvendo componentes genéticos, esqueléticos, dentários e funcionais, o que torna seu diagnóstico e planejamento de tratamento um desafio complexo. Nas últimas duas décadas, o campo da ortodontia testemunhou uma transformação paradigmática, impulsionada por avanços tecnológicos e pela consolidação de evidências científicas robustas. Este artigo de informativo tem como objetivo o analisar a evolução das modalidades terapêuticas para a correção da mordida profunda. Sendo abordadas desde as técnicas convencionais, como os arcos de intrusão, até abordagens contemporâneas como a ancoragem esquelética com mini-parafusos, terapia com alinhadores transparentes e a integração do fluxo digital e da inteligência artificial. Ressaltando também a importância da abordagem multidisciplinar e os fatores associados à estabilidade dos resultados a longo prazo, fornecendo uma perspectiva abrangente sobre o estado da arte no manejo da mordida profunda.
Palavras-chave: Mordida Profunda, Sobremordida, Tratamento Ortodôntico, Ancoragem Esquelética, Alinhadores Transparentes, Biomecânica Ortodôntica.
1. Introdução
A mordida profunda, também conhecida como sobremordida exagerada ou "deep bite", é uma má oclusão no plano vertical definida por uma sobreposição excessiva dos dentes anteriores superiores sobre os inferiores. Embora uma certa quantidade de trespasse vertical seja considerada normal e esteticamente agradável, sua exacerbação constitui uma condição clínica relevante que pode levar a consequências funcionais e patológicas, como trauma nos tecidos moles palatinos, desgaste incisal excessivo, risco de ser um dos fatores desencadeante de uma disfunção temporomandibular (DTM) e comprometimento da estética do sorriso [1, 2]. A sua prevalência é notavelmente alta, variando de 8,4% a 51,5% na população geral, dependendo dos critérios diagnósticos, grupo étnico e faixa etária avaliada, o que a posiciona como uma das más oclusões mais comuns encontradas na prática ortodôntica diária [3, 4].
A relevância do tema para a ortodontia contemporânea transcende desde a mera correção do alinhamento dentário. Onde o tratamento eficaz da mordida profunda está intrinsecamente ligado à obtenção de uma oclusão funcionalmente estável, à saúde periodontal e à harmonia facial do paciente. A complexidade de seu manejo reside em sua etiologia multifatorial, que pode envolver desde fatores genéticos, como variações nos genes IRF6 e BMP4 [4], até componentes esqueléticos, como um padrão de crescimento braquifacial, e fatores dentoalveolares, como a sobre-erupção dos incisivos ou a infra-erupção dos dentes posteriores [3]. Consequentemente, um diagnóstico diferencial preciso é mandatório para a elaboração de um plano de tratamento individualizado e eficaz.
O objetivo deste artigo é realizar uma revisão da literatura científica sobre a evolução no tratamento da mordida profunda nas últimas décadas. A análise será fundamentada primariamente em evidências de alto nível, como meta-análises e revisões sistemáticas, para avaliar a eficácia, as indicações, as limitações e a estabilidade das diferentes modalidades terapêuticas. Serão exploradas desde as abordagens convencionais, que formaram a base do tratamento por muitos anos, até as inovações tecnológicas que revolucionaram o diagnóstico e a biomecânica ortodôntica, como a ancoragem esquelética, o fluxo digital, a inteligência artificial (IA) e a terapia com alinhadores transparentes. Por fim, será destacada a crescente importância de uma abordagem multidisciplinar para a resolução de casos complexos e a busca por resultados estáveis a longo prazo.
2. Desenvolvimento (Revisão da Literatura)
2.1 Fatores Etiológicos e Prevalência das Alterações
A compreensão aprofundada da etiologia da mordida profunda é um pilar fundamental para o sucesso terapêutico. Longe de ser uma condição de causa única, a sobremordida exagerada é o resultado de uma complexa interação entre fatores genéticos, esqueléticos, dentários e funcionais. A literatura das últimas duas décadas, com o auxílio de novas tecnologias diagnósticas, tem permitido uma dissecação mais precisa desses componentes.
Estudos genéticos, por exemplo, identificaram genes específicos que podem estar associados ao desenvolvimento da mordida profunda. Variações em genes como o Fator Regulador de Interferon 6 (IRF6) e a Proteína Morfogenética Óssea 4 (BMP4) foram implicadas na suscetibilidade a esta má oclusão. Adicionalmente, genes que regulam o crescimento e desenvolvimento ósseo, como o RUNX2 e o COL1A1, também parecem desempenhar um papel significativo, sugerindo uma predisposição hereditária para a condição [4]. Essa base genética pode se manifestar em padrões esqueléticos específicos, como um crescimento facial predominantemente horizontal (padrão braquifacial), uma altura facial anterior inferior diminuída ou uma mandíbula retruída, que frequentemente resultam em uma sobremordida acentuada.
Paralelamente aos fatores intrínsecos, fatores ambientais e comportamentais exercem uma influência considerável. Hábitos deletérios na infância, como a sucção de polegar ou o uso prolongado de chupeta, podem alterar o equilíbrio de forças musculares e guiar o desenvolvimento dentoalveolar para uma sobreposição vertical excessiva [4]. A função muscular atípica, como um lábio inferior hipertônico que se posiciona lingualmente aos incisivos superiores, também pode exacerbar a condição. Do ponto de vista dentário, a etiologia pode estar ligada à sobre-erupção dos incisivos (superiores e/ou inferiores) ou à infra-erupção dos dentes posteriores, resultando em uma diminuição da dimensão vertical posterior e, consequentemente, um aprofundamento da mordida na região anterior [3].
A prevalência da mordida profunda demonstra sua relevância epidemiológica. Como apontado por Watted et al. (2023), as taxas podem variar drasticamente de 8,4% a 51,5%, refletindo a diversidade de metodologias de medição e as características das populações estudadas [4]. Análises mais recentes indicam que a Europa apresenta a maior prevalência (33,08%), enquanto a população dos Estados Unidos apresenta taxas entre 15% e 20% [3, 5]. No Brasil, estima-se que cerca de 10,8% da população seja afetada [6]. É notável que a prevalência pode ser maior em populações mais jovens, com estudos mostrando uma taxa de 22,6% em crianças de 10 a 12 anos, sendo significativamente mais comum no sexo masculino [7]. Essa variação reforça a necessidade de estudos epidemiológicos robustos e padronizados para um melhor entendimento da distribuição global desta má oclusão.
2.2 Evolução das Modalidades de Tratamento
O tratamento da mordida profunda passou por uma notável evolução nas últimas duas décadas, migrando de abordagens predominantemente convencionais para estratégias altamente tecnológicas e personalizadas. Essa transição foi impulsionada pela busca por maior eficiência, previsibilidade e estabilidade, além de uma crescente demanda por tratamentos mais estéticos e confortáveis. A linha do tempo dessa evolução pode ser segmentada em fases distintas, cada uma marcada pela introdução e consolidação de novas tecnologias e conceitos biomecânicos.
No período de 2005 a 2010, a prática ortodôntica ainda era amplamente dominada por técnicas convencionais com aparelhos fixos. A correção da sobremordida baseava-se em mecânicas bem estabelecidas, como o uso de arcos com curvas de Spee acentuados e/ou reversos para promover a extrusão relativa dos dentes posteriores e a intrusão relativa dos anteriores. Arcos de intrusão específicos, como o arco base de intrusão (ABT) de Burstone ou o arco utilitário de Ricketts, eram frequentemente empregados para obter a intrusão verdadeira dos incisivos, sendo considerados o padrão-ouro para o controle vertical anterior. A eficácia desses métodos, embora comprovada, dependia significativamente da cooperação do paciente e apresentava desafios biomecânicos relacionados ao controle de efeitos colaterais, como a inclinação indesejada dos dentes de ancoragem [8].
A década seguinte, de 2010 a 2015, foi marcada pela ascensão e popularização da ancoragem esquelética. A introdução de dispositivos de ancoragem temporária (DATs), como mini-implantes (Figura 1) e mini-placas, representou um salto quântico na biomecânica ortodôntica. Como destacado por Nanda e Uribe, a ancoragem esquelética permitiu que os ortodontistas superassem muitas das limitações das mecânicas convencionais, proporcionando um ponto de ancoragem estável e independente dos dentes para a aplicação de forças [9]. Revisões sistemáticas e meta-análises começaram a emergir, confirmando a superioridade dos mini-implantes (MSI) para a intrusão verdadeira dos incisivos em comparação com aparelhos convencionais (CIA). Evidências de qualidade moderada mostraram que os MSI são mais eficazes para a intrusão dos incisivos superiores, resultando em uma correção mais eficiente da mordida profunda [1, 10].

Figura 1 - Corte sagital mostrando a biomecânica da ancoragem esquelética com mini-implante posicionado no osso alveolar. As setasas indicam o vetor de força de intrusão pura aplicado aos incisivos superiores, sem efeitos colaterais nos dentes posteriores.
O período de 2015 a 2020 testemunhou a revolução digital na ortodontia. A adoção em larga escala de tecnologias como o escaneamento intraoral, a tomografia computadorizada de feixe cônico (TCFC) e a impressão 3D transformou o diagnóstico e o planejamento. A capacidade de visualizar as estruturas dento-faciais em três dimensões permitiu um planejamento de tratamento mais preciso e seguro, especialmente no que diz respeito ao posicionamento de mini-implantes e à avaliação dos limites biológicos do movimento dentário [11]. Simultaneamente, a terapia com alinhadores transparentes ganhou atração significativa como uma alternativa estética aos aparelhos fixos. Embora inicialmente indicados para casos mais simples, os alinhadores vem evoluíndo rapidamente, incorporando recursos como "bite ramps" e "attachments" otimizados para a correção de sobremordidas mais complexas [12].
Finalmente, de 2020 a 2025, a inteligência artificial (IA) e a personalização em massa consolidaram-se como as novas fronteiras. A IA passou a ser integrada em todas as fases do tratamento, desde o diagnóstico automatizado de imagens de TCFC (Figura 2) até o planejamento de tratamento preditivo e a fabricação de aparelhos personalizados [13]. Sistemas como o Invisalign G8, por exemplo, prometem uma previsibilidade até duas vezes maior na intrusão de incisivos, utilizando algoritmos para otimizar a aplicação de forças [12]. O monitoramento remoto, auxiliado por IA, tornou-se uma realidade, permitindo o acompanhamento do progresso do paciente à distância e aumentando a conveniência e a acessibilidade do tratamento. Essa fase representa o auge da integração tecnológica, onde dados de múltiplos exames são combinados para criar um plano de tratamento verdadeiramente individualizado e biomecanicamente otimizado.

Figura 2 - Imagem de tomografia computadorizada de feixe cônico mostrando análise tridimensional. As vistas sagital, coronal e axial permitem avaliação precisa da espessura óssea, posicionamento radicular e relação vertical dos dentes anteriores, fundamentais para o planejamento do tratamento.
Essa trajetória evolutiva reflete uma mudança fundamental na filosofia de tratamento: de uma abordagem reativa e padronizada para uma abordagem proativa, preditiva e personalizada, centrada nas características anatômicas e nos objetivos estéticos de cada paciente.
2.2.2 Métodos Convencionais: A Base do Tratamento Vertical
Apesar da revolução tecnológica, os princípios biomecânicos que regem os métodos convencionais de tratamento da mordida profunda permanecem como a base fundamental para a compreensão de qualquer abordagem terapêutica. Essas técnicas, primariamente associadas ao uso de aparelhos fixos, que visam corrigir a sobremordida através de três mecanismos principais: a intrusão dos incisivos, a extrusão dos dentes posteriores ou uma combinação de ambos. A escolha da estratégia, como classicamente descrito por Proffit, depende de uma análise criteriosa do diagnóstico, incluindo a exposição dos incisivos em repouso e ao sorrir, a dimensão vertical do paciente e o padrão de crescimento facial [14].
O método mais difundido com aparelhos fixos de arcos contínuos envolve o uso de arcos com Curva de Spee Reversa (ACR). Ao inserir um arco de aço ou níquel-titânio com uma curva acentuada no plano vertical nos slots dos bráquetes, que estão relativamente alinhados, gera-se um sistema de forças. Esse sistema resulta em uma força intrusiva nos incisivos e uma força extrusiva nos pré-molares e molares. Embora eficaz para o nivelamento do arco, essa abordagem possui efeitos colaterais previsíveis. A extrusão posterior pode levar a uma rotação horária da mandíbula, aumentando a altura facial anterior inferior, o que é indesejável em pacientes com padrão de crescimento vertical. Além disso, a mecânica pode resultar em uma vestibularização (proclinação) dos incisivos, um efeito que pode ser benéfico em casos de Classe II, divisão 2 com incisivos retroinclinados, mas prejudicial em outras situações [8].
Para um controle mais preciso da intrusão anterior, as técnicas de arco segmentado, como o Arco de Intrusão de Burstone e o Arco Utilitário de Ricketts, foram desenvolvidas. Essas abordagens dissociam os segmentos anterior e posterior, permitindo a aplicação de forças de baixa magnitude e longo alcance diretamente na região anterior. O sistema de forças gerado é estaticamente determinado, o que, em teoria, proporciona um controle superior sobre os efeitos colaterais. O Arco de Intrusão de Burstone, por exemplo, é projetado para aplicar uma força intrusiva pura nos incisivos, minimizando a inclinação vestibular. O Arco Base de Intrusão Anterior (ABT) segue princípios semelhantes. Revisões sistemáticas confirmam que tanto o ABT quanto a ACR são eficazes na redução da sobremordida, com evidências de qualidade moderada suportando seu uso clínico [1]. A principal desvantagem dessas técnicas segmentadas reside na sua maior complexidade, exigindo um conhecimento biomecânico mais aprofundado por parte do ortodontista e um maior tempo de cadeira para a confecção e ativação dos arcos.
Em resumo, os métodos convencionais oferecem um arsenal terapêutico robusto e bem compreendido. Contudo, suas limitações inerentes, como a dependência da ancoragem dentária e a ocorrência de movimentos recíprocos indesejados, pavimentaram o caminho para o desenvolvimento de soluções que pudessem oferecer um controle de ancoragem absoluto, como a ancoragem esquelética.
2.2.3 Ancoragem Esquelética: A Revolução Biomecânica
A introdução da ancoragem esquelética, através de dispositivos de ancoragem temporária (DATs) como mini-implantes (MIS) e mini-placas, representa indiscutivelmente um dos avanços mais significativos na ortodontia das últimas duas décadas. Essa tecnologia surgiu como uma resposta direta às limitações da ancoragem dentária convencional, que invariavelmente envolve movimentos recíprocos e reações indesejadas. A capacidade de estabelecer uma ancoragem absoluta e estável diretamente no osso alveolar ou basal permitiu aos ortodontistas, como preconizado por especialistas em biomecânica como Ravindra Nanda, aplicar sistemas de forças mais puros e previsíveis, expandindo drasticamente os limites do tratamento ortodôntico não-cirúrgico [9].
A biomecânica por trás da ancoragem esquelética é sua principal vantagem. Ao contrário da ancoragem dentária, que obedece à terceira lei de Newton (ação e reação), os DATs fornecem um ponto de fixação estacionário. Isso permite a aplicação de forças contínuas e de magnitude controlada para produzir movimentos dentários complexos sem sobrecarregar ou movimentar unidades de ancoragem [10].
Uma revisão sistemática de 2023 demonstrou que os mini-parafusos podem suportar forças de até 500g e são versáteis o suficiente para serem usados em diversas aplicações clínicas, incluindo intrusão de incisivos, distalização de molares, retração anterior em massa e correção de assimetrias [2]. Para o tratamento da mordida profunda, a aplicação mais direta é a intrusão verdadeira dos incisivos, um movimento notoriamente difícil de se obter com mecânicas convencionais sem efeitos colaterais.
A eficácia clínica dos DATs (Figura 3) na correção da mordida profunda é robustamente suportada por evidências de alto nível. Uma meta-análise de 2025 concluiu que, embora com base em evidências de baixa qualidade, os mini-implantes (MIS) são superiores aos aparelhos convencionais na redução da sobremordida. Mais importante, evidências de qualidade moderada confirmam que os MIS são superiores para a intrusão efetiva dos incisivos superiores [1]. Outra meta-análise, de Bardideh et al. (2023), quantificou essa vantagem, mostrando que o uso de mini-parafusos resulta em uma intrusão verdadeira aproximadamente 0,62 mm maior e uma redução do efeito colateral de extrusão molar de 0,4 mm em comparação com outros métodos [2]. Essa capacidade de isolar o movimento aos dentes-alvo, sem extrudir os posteriores e aumentar a dimensão vertical, é particularmente valiosa em pacientes com padrão de crescimento vertical ou normal.

Figura 3 - Vista frontal do sistema de forças com mini-implantes para correção de mordida profunda. Molas e cadeias elásticas aplicam força de até 150g por lado, promovendo intrusão controlada dos incisivos.
Apesar de suas vantagens, a ancoragem esquelética não é isenta de limitações. A técnica requer um procedimento cirúrgico minimamente invasivo para a inserção do dispositivo, o que implica uma curva de aprendizado para o profissional e um custo adicional para o paciente. A taxa de falha dos mini-implantes, embora relativamente baixa (variando de 5% a 10%), é um fator a ser considerado, estando associada a fatores como a qualidade óssea, a técnica de inserção e a higiene do paciente. Além disso, a proximidade com raízes dentárias e outras estruturas anatômicas exige um planejamento cuidadoso, frequentemente auxiliado por exames de imagem tridimensionais como a TCFC [11]. Contudo, o balanço entre os benefícios biomecânicos e as limitações técnicas pende fortemente a favor do uso de DATs, que se consolidaram como uma ferramenta indispensável no arsenal terapêutico para o tratamento de mordidas profundas complexas.
2.2.4 Alinhadores Transparentes: A Fronteira Estética
A terapia com alinhadores transparentes (CAT - Clear Aligner Therapy), popularizada pelo sistema Invisalign, representa uma das mudanças mais pragmáticas voltadas ao tratamento do paciente na ortodontia moderna. Introduzida em 1997, essa modalidade de tratamento evoluiu de uma solução para maloclusões leves para uma alternativa viável para casos cada vez mais complexos, incluindo a mordida profunda. A promessa de um tratamento praticamente invisível, mais confortável e que facilita a higiene oral impulsionou sua aceitação massiva, desafiando a hegemonia dos aparelhos fixos tradicionais.
A correção da mordida profunda com alinhadores (Figura 4) utiliza vários mecanismos biomecânicos. A intrusão dos incisivos é planejada virtualmente e alcançada através da aplicação de forças suaves e contínuas pelo alinhador. Para potencializar esse efeito, recursos como os bite ramps — pequenas rampas de resina posicionadas na superfície palatina dos alinhadores superiores — são empregados para criar um levante de mordida posterior, desocluir os dentes posteriores e direcionar as forças mastigatórias para auxiliar na intrusão dos incisivos inferiores. Além disso, a própria espessura do material do alinhador (cerca de 0,75 mm) sobre a superfície oclusal dos dentes posteriores pode gerar um efeito intrusivo passivo sobre estes, um fenômeno conhecido como “efeito colchão d’água”, que contribui para a abertura da mordida [12]. A extrusão relativa dos dentes posteriores e a vestibularização dos incisivos também podem ser programadas no software de planejamento, como o ClinCheck.

Figura 4 - Alinhador transparente com bite ramps (rampas de mordida) na superfície palatina para correção de mordida profunda. O corte transversal mostra a espessura do alinhador, posição dos attachments e vetores de força.
Apesar da evolução tecnológica, com sistemas como o Invisalign G8 prometendo maior previsibilidade, a eficácia e a acurácia da correção da mordida profunda com alinhadores ainda são temas de debate na literatura. Uma revisão de 2025 por Blundell aponta que a correção da sobremordida com alinhadores permanece imprevisível, especialmente em casos severos. A acurácia do movimento de intrusão, ou seja, a correspondência entre o movimento planejado e o resultado clínico, varia significativamente, com estudos reportando valores entre 33% e 48,88% [12]. Isso significa que, para cada 3 mm de intrusão planejada, apenas cerca de 1 mm pode ser efetivamente alcançado clinicamente. Por essa razão, muitos autores, incluindo Chris Chang, um expoente na área, concordam que os aparelhos fixos ainda são a modalidade de escolha para o tratamento de mordidas profundas severas, onde um controle tridimensional preciso e movimentos de grande amplitude são necessários [15].
As indicações para o tratamento da mordida profunda com alinhadores, portanto, concentram-se em casos de severidade leve a moderada, em pacientes adultos ou adolescentes com boa cooperação e alta demanda estética. A principal desvantagem reside na sua dependência quase total da colaboração do paciente, que precisa utilizar os alinhadores por 20 a 22 horas por dia, e nas suas limitações biomecânicas para movimentos complexos. O tempo de tratamento é comparável ao dos aparelhos fixos, variando de 12 a 36 meses, dependendo da complexidade do caso. Em suma, os alinhadores transparentes estabeleceram-se como uma ferramenta valiosa e eficaz para um subgrupo específico de pacientes com mordida profunda, mas a seleção criteriosa do caso e o gerenciamento das expectativas do paciente são cruciais para o sucesso do tratamento.
2.3 Integração Tecnológica na Ortodontia
A evolução no tratamento da mordida profunda é indissociável da profunda transformação digital que a ortodontia vivenciou nas últimas duas décadas. A transição de um fluxo de trabalho analógico, baseado em moldagens com gesso, radiografias e fotografias bidimensionais, para um fluxo totalmente digital, redefiniu os padrões de diagnóstico, planejamento e execução do tratamento. Essa integração tecnológica não apenas otimizou processos, mas também abriu novas possibilidades terapêuticas, permitindo um nível de personalização e precisão antes inatingível.
O Fluxo Digital Completo inicia-se com a aquisição de dados do paciente através do escaneamento intraoral e facial (Figura 5). Esses scanners de alta precisão capturam a anatomia dentária e dos tecidos moles em um modelo 3D virtual, eliminando a necessidade de moldagens físicas desconfortáveis e passíveis de distorção. Esse modelo digital torna-se a base para todo o planejamento. Sobreposto a ele, estão os dados da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC), que fornece uma visão tridimensional detalhada das estruturas ósseas, raízes dentárias e vias aéreas. A importância da TCFC no diagnóstico ortodôntico tem sido amplamente discutida, com autores como Daniela Garib destacando seu papel na avaliação precisa dos limites biológicos do movimento dentário e no planejamento seguro da instalação de ancoragem esquelética [11, 16]. Na mordida profunda, a TCFC permite avaliar a espessura da tábua óssea vestibular e palatina, a inclinação das raízes e a relação dos dentes com estruturas nobres, informando a biomecânica de intrusão de forma muito mais segura.

Figura 5 - Processo de escaneamento intraoral em tempo real, com visualização dos modelos digitais 3D das arcadas dentárias e sobreposição facial no monitor. A tecnologia elimina moldagens convencionais e permite planejamento imediato.
Uma vez que os dados são integrados, a Inteligência Artificial (IA) entra em cena como uma poderosa ferramenta de análise e planejamento. Algoritmos de IA (Figura 6) são capazes de realizar a segmentação automática de dentes e ossos nas imagens de TCFC, realizar análises cefalométricas tridimensionais em segundos e, mais impressionantemente, prever o resultado do movimento dentário com base em diferentes estratégias biomecânicas [13]. No contexto dos alinhadores, a IA é fundamental para o design dos estágios de tratamento (o setup virtual), calculando a sequência de movimentos e a morfologia dos attachments necessários para alcançar o resultado desejado. Além disso, a IA potencializa as plataformas de monitoramento remoto, que utilizam a câmera de smartphones para rastrear o progresso do tratamento, identificar problemas de adaptação dos alinhadores e garantir que o tratamento esteja ocorrendo conforme o planejado, reduzindo a necessidade de visitas presenciais.

Figura 6 -Sistema de inteligência artificial analisando imagens radiograficas com detecção automática de pontos cefalométricos, visualização de redes neurais e predição de resultados de tratamento.
Finalmente, o planejamento digital materializa-se através da impressão 3D. Essa tecnologia é usada para imprimir os modelos físicos (Figura 7) sobre os quais os alinhadores são termoformados, bem como para fabricar guias cirúrgicos para a instalação precisa de mini-implantes, aparelhos personalizados e contenções. A capacidade de ir do diagnóstico digital à fabricação de um aparelho customizado em um curto espaço de tempo fecha o ciclo do fluxo digital, tornando o tratamento ortodôntico mais ágil, preciso e personalizado [13].

Figura 7 - Impressora 3D fabricando modelos dentários para confecção de alinhadores, ao lado de dispositivos ortodônticos impressos incluindo guias cirúrgicos e contenções personalizadas.
2.4 A Abordagem Multidisciplinar: Chave para Casos Complexos
O tratamento da mordida profunda, especialmente em pacientes adultos com discrepâncias esqueléticas significativas ou comorbidades dentárias, frequentemente transcende os limites da ortodontia isolada. A resolução bem-sucedida de casos complexos exige uma abordagem colaborativa e integrada, envolvendo uma equipe de especialistas de diferentes áreas da odontologia e da saúde. Essa sinergia multidisciplinar (Figura 8) garante que todos os aspectos funcionais, estéticos e biológicos do paciente sejam abordados de forma sinérgica.

Figura 8 - Equipe multidisciplinar necessária para o tratamento completo da mordida profunda complexa: ortodontista, cirurgião bucomaxilofacial, periodontista, fonoaudiólogo, dentista estético e protesista. A colaboração entre especialidades é fundamental para resultados de excelência.
Em casos de mordida profunda severa associada a uma discrepância esquelética subjacente (e.g., retrognatismo mandibular), a Cirurgia Ortognática torna-se uma ferramenta terapêutica indispensável. A combinação de ortodontia e cirurgia ortognática permite corrigir a relação basal dos maxilares, algo que o movimento dentário isolado não conseguiria alcançar. O planejamento é realizado de forma integrada, com o ortodontista realizando o alinhamento e nivelamento pré-cirúrgico para posicionar os dentes em suas bases ósseas ideais, e o cirurgião bucomaxilofacial executando o reposicionamento cirúrgico dos maxilares. Abordagens como o "Surgery-First" (Benefício Antecipado) têm ganhado popularidade por encurtar o tempo total de tratamento e abordar as preocupações estéticas do paciente mais rapidamente [17].
A interação com a Periodontia é crucial, dado que o movimento ortodôntico ocorre através do periodonto. Em pacientes com sobremordida exagerada, é comum encontrar recessões gengivais nos incisivos inferiores devido ao trauma oclusal ou a uma faixa estreita de gengiva inserida. Um periodontista deve avaliar a saúde periodontal antes do início do tratamento, realizando terapias como enxertos gengivais para aumentar a espessura do tecido e prevenir a piora da recessão durante a vestibularização dos incisivos, um efeito colateral comum em algumas mecânicas de correção da mordida profunda. A manutenção periodontal durante todo o tratamento é igualmente vital para garantir a saúde dos tecidos de suporte.
A Fonoaudiologia desempenha um papel importante na reeducação da função muscular. Padrões de deglutição atípica ou interposição lingual podem ser tanto uma causa quanto um fator de perpetuação da má oclusão. A terapia miofuncional orofacial, conduzida por um fonoaudiólogo, visa corrigir esses hábitos deletérios, reequilibrar a musculatura perioral e promover um padrão de deglutição maduro, o que é fundamental para a estabilidade do resultado ortodôntico a longo prazo.
Finalmente, a Dentística Estética, a Prótese e Reabilitação Oral e a Harmonização Orofacial são essenciais na fase de finalização. O desgaste incisal severo, uma consequência comum da mordida profunda crônica, frequentemente requer restaurações estéticas com resinas compostas ou facetas de porcelana para devolver a anatomia e a função dos dentes anteriores. Em casos de perdas dentárias posteriores que contribuíram para a extrusão dos dentes anteriores e o colapso da dimensão vertical, a reabilitação com próteses ou implantes é necessária para restabelecer o suporte oclusal posterior. A harmonização orofacial, por sua vez, pode complementar o resultado, tratando, por exemplo, a hiperatividade do músculo mentoniano com toxina botulínica ou melhorando o contorno facial para uma estética final mais equilibrada.
2.5 Estabilidade e Recidiva: O Desafio da Manutenção a Longo Prazo
A correção da mordida profunda é um objetivo terapêutico alcançável com diversas modalidades de tratamento, mas a manutenção do resultado a longo prazo representa o verdadeiro critério de sucesso. A recidiva, definida como o retorno parcial ou total da sobremordida exagerada após a remoção dos aparelhos, é uma preocupação constante para os ortodontistas e tem sido objeto de numerosos estudos. A estabilidade da correção depende de uma complexa interação de fatores, incluindo a estratégia de tratamento empregada, as características individuais do paciente e o protocolo de contenção utilizado.
Uma revisão sistemática de 2012 por Huang et al. forneceu um panorama importante sobre a estabilidade. Analisando diversos estudos, os autores encontraram que, em média, os pacientes apresentavam uma sobremordida inicial de 5,3 mm, que era corrigida para 2,6 mm ao final do tratamento. A longo prazo, observou-se uma recidiva média para 3,4 mm. Isso indica que, embora ocorra alguma recidiva, a maior parte da correção obtida durante o tratamento é mantida [18]. O estudo também sugeriu que a severidade inicial da mordida profunda parece estar relacionada à estabilidade a longo prazo, com casos mais severos apresentando maior potencial de recidiva.
Os fatores que influenciam a estabilidade são multifatoriais. A idade no início do tratamento é um deles; uma revisão por Diouf e Beugre (2019) aponta que a idade e a técnica de tratamento são dois fatores que impactam a estabilidade a longo prazo [19]. O tratamento realizado durante o surto de crescimento puberal tende a apresentar resultados mais estáveis, pois permite o redirecionamento do crescimento para auxiliar na correção. O padrão de crescimento facial do paciente continua a ser um fator dominante; pacientes com um padrão de crescimento horizontal (braquifacial) tendem a ter uma musculatura mastigatória mais forte e uma tendência inerente ao aprofundamento da mordida, o que pode favorecer a recidiva. A função muscular, como a interposição lingual ou a hiperatividade do músculo mentoniano, também deve ser controlada para garantir a estabilidade.
O método de correção também parece influenciar a estabilidade. Acredita-se que a intrusão verdadeira dos incisivos, obtida preferencialmente com ancoragem esquelética, seja mais estável do que a correção obtida primariamente pela extrusão dos dentes posteriores. A extrusão pode ser mais propensa à recidiva devido às forças oclusais e à tendência de rotação mandibular. Da mesma forma, a correção através da vestibularização excessiva dos incisivos pode ser instável se os dentes forem movidos para uma posição fora do equilíbrio muscular dos lábios e da língua.
Diante da tendência à recidiva, a fase de contenção é absolutamente crítica. Não existe um consenso único sobre o protocolo ideal, mas a maioria dos autores concorda que a contenção a longo prazo, ou até mesmo permanente, é necessária para manter a correção da sobremordida. As contenções fixas, como as barras de aço coladas na superfície lingual dos incisivos inferiores (3x3), são eficazes para prevenir a extrusão e o apinhamento anterior. Placas de contenção removíveis, como a placa de Hawley com um plano de mordida anterior, também são amplamente utilizadas para controlar a dimensão vertical. O monitoramento contínuo do paciente após a fase ativa do tratamento é essencial para interceptar qualquer sinal de recidiva precocemente.
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3. Tabelas Comparativas
Tabela 1: Comparativo de Vantagens e Desvantagens das Diferentes Técnicas de Correção da Mordida Profunda
Característica | Aparelhos Fixos Convencionais | Ancoragem Esquelética (DATs) | Alinhadores Transparentes |
Mecanismo Principal | Extrusão posterior e/ou intrusão anterior relativa | Intrusão anterior verdadeira | Intrusão anterior, extrusão posterior, vestibularização |
Vantagens | - Alta previsibilidade e controle 3D- Custo relativamente menor- Independente da cooperação do paciente (exceto elásticos) | - Ancoragem absoluta- Máxima eficiência na intrusão- Redução de efeitos colaterais- Tratamento de casos complexos sem cirurgia | - Estética superior- Maior conforto- Facilidade de higiene- Menos visitas de emergência |
Desvantagens | - Estética desfavorável- Dificuldade de higiene- Desconforto (fios, bráquetes)- Efeitos colaterais (perda de ancoragem) | - Procedimento cirúrgico para instalação- Custo adicional- Risco de falha do implante (5-10%)- Risco de dano a estruturas anatômicas | - Previsibilidade limitada em casos severos- Dependência extrema da cooperação do paciente- Custo mais elevado- Limitações biomecânicas para certos movimentos |
Indicação Principal | Mordida profunda moderada a severa | Mordida profunda severa, especialmente com necessidade de intrusão | Mordida profunda leve a moderada, alta demanda estética |
Tabela 2: Resumo de Indicações e Contra-indicações para os Métodos de Tratamento da Mordida Profunda
Método de Tratamento | Indicações | Contraindicações |
Aparelhos Fixos | - Maioria dos casos de mordida profunda- Necessidade de controle preciso de raiz e torque- Casos que exigem extrações- Pacientes com baixa cooperação | - Pacientes com altíssima demanda estética- Higiene oral extremamente deficiente- Doença periodontal ativa não controlada |
Ancoragem Esquelética | - Mordida profunda esquelética severa- Necessidade de intrusão pura dos incisivos- Pacientes com padrão de crescimento vertical- Falta de ancoragem dentária posterior- Camuflagem de casos limítrofes para cirurgia | - Espaço inter-radicular insuficiente- Qualidade/quantidade óssea inadequada- Pacientes com condições médicas que contraindicam cirurgia- Higiene oral precária na área do implante |
Alinhadores | - Mordida profunda leve a moderada (até 5-6 mm)- Pacientes adultos e adolescentes com alta cooperação- Casos sem necessidade de extrações complexas- Pacientes com boa higiene oral | - Mordida profunda esquelética severa- Necessidade de intrusão significativa (>2-3 mm)- Dentes com coroas clínicas curtas- Pacientes com baixa ou nenhuma cooperação |
Cirurgia Ortognática | - Discrepâncias esqueléticas severas- Mordida profunda associada a deformidades faciais- Limitações do movimento dentário (limites biológicos)- Quando a camuflagem ortodôntica comprometeria a estética facial | - Pacientes sem queixa facial significativa- Risco cirúrgico elevado- Pacientes em fase de crescimento ativo (exceto casos severos)- Instabilidade psicológica |
Tabela 3: Linha do Tempo da Evolução no Tratamento da Mordida Profunda (2005-2025)
Período | Foco Principal | Tecnologias e Técnicas Chave | Referência de Impacto |
2005-2010 | Consolidação de Técnicas Convencionais | - Aparelhos fixos com arcos de curva de Spee reversa- Arcos de intrusão (Burstone, Ricketts)- Foco em biomecânica de arcos segmentados | Proffit, W. R. (2007) |
2010-2015 | Ascensão da Ancoragem Esquelética | - Disseminação de mini-implantes (DATs)- Estudos iniciais sobre eficácia da intrusão com MSI- Primeiras revisões sistemáticas comparando DATs e métodos convencionais | Nanda, R. (2014) |
2015-2020 | Revolução Digital e Alinhadores | - Escaneamento intraoral e TCFC- Planejamento virtual 3D- Expansão do uso de alinhadores para casos complexos- Bite ramps e attachmentsotimizados | Garib, D. G. (2014) |
2020-2025 | Inteligência Artificial e Personalização | - IA no diagnóstico e planejamento (segmentação, predição)- Monitoramento remoto- Impressão 3D de aparelhos customizados- Sistemas avançados (e.g., Invisalign G8) | Olawade, D. B. (2025) |
4. Conclusão
A jornada do tratamento da mordida profunda nas últimas duas décadas reflete a própria evolução da ortodontia: uma disciplina que se moveu de uma arte baseada em experiência para uma ciência fundamentada em evidências e impulsionada pela tecnologia. A transição das mecânicas convencionais, com suas limitações de ancoragem, para a precisão biomecânica da ancoragem esquelética e a estética dos alinhadores transparentes, expandiu o espectro de casos que podem ser tratados com previsibilidade e sucesso. A integração do fluxo digital (Figura 9), da imagem tridimensional e da inteligência artificial não apenas otimizou o diagnóstico e o planejamento, mas também inaugurou uma era de tratamento verdadeiramente personalizado.

Figura 9 - Fluxo de trabalho digital completo: escaneamento intraoral → TCFC → análise por IA → planejamento virtual → impressão 3D → fabricação de aparelhos → monitoramento remoto. Cada etapa está integrada para um tratamento personalizado e eficiente.
As implicações clínicas dessa evolução são profundas. O ortodontista moderno deve ser um profissional híbrido, com sólida formação em biomecânica clássica, mas também fluente no ecossistema digital. A seleção da modalidade terapêutica ideal deixou de ser uma questão de preferência pessoal para se tornar uma decisão clínica baseada em uma análise criteriosa das evidências disponíveis, das características anatômicas do paciente e de seus objetivos individuais. A crescente complexidade dos casos, especialmente em pacientes adultos, reforça a necessidade de uma abordagem multidisciplinar, onde a colaboração com periodontistas, cirurgiões, fonoaudiólogos e protesistas é a chave para alcançar resultados de excelência que sejam não apenas estéticos, mas também funcionais e estáveis.
Olhando para o futuro, a trajetória aponta para uma personalização ainda maior. A ortodontia preditiva, alimentada por IA, poderá um dia permitir a intervenção precoce antes mesmo que a má oclusão se estabeleça completamente. O desenvolvimento de novos materiais e a impressão 3D em tempo real prometem aparelhos ainda mais eficientes e confortáveis. Contudo, o desafio fundamental permanecerá o mesmo: garantir a estabilidade a longo prazo dos resultados alcançados. A busca por um equilíbrio perfeito entre a oclusão, a função muscular e a estética facial continuará a ser o motor da inovação no tratamento da mordida profunda e da ortodontia como um todo.
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